sábado, 21 de novembro de 2009

Indiferença

Andersson Catani, acadêmico de jornalismo, VII nível


Na sociedade do consumismo, e do culto à personalidade, o conceito de público e privado se misturam. Hoje, ser desconhecido é pior do que ser pobre. O sonho da geração é, no mínimo, aparecer na TV. E isso não tem nada a ver com o salário que os artistas da telinha ganham. Ao contrário, muita gente está disposta a pagar um alto preço. Dezenas de novas celebridades são criadas da noite para o dia, baseado em atitudes negativas. O “Falem mal, mas falem de mim” nunca esteve tão em alta. A busca exagerada pela fama desfoca a linha tênue que distingue o que pode ser mostrado, do que deve ser escondido.

O ser humano é um voyeur em sua essência. O fogo foi descoberto não para aquecer-nos ou para cozinhar a carne das nossas refeições, mas para iluminar a janela da caverna daquela hominídea gostosa. De lá pra cá, as roupas cresceram e diminuíram, e cresceram novamente, e diminuíram novamente, e ainda existem pessoas que abusam da nossa tendência pelo fetiche, para conseguir fama e fortuna. Não que isso seja considerado totalmente errado.

O fato é que público e privado tornaram-se uma coisa só, porque a sociedade assim permitiu. Sem a vista grossa dos demais, e em alguns casos, até o incentivo da maioria, hoje este conceito seria muito mais fácil de ser explicado. Mas impera a subserviência a cultura da imagem e a perseguição à vida-fácil.

O melhor remédio, neste caso, é a indiferença. Não há nada mais modelador e modificador do que o total desprezo. Mais do que a vaia, a raiva, o rancor e a violência, a indiferença fere aqueles que fazem o que podem para chocar e chamar a atenção para si. O silêncio barulhento de milhares de pessoas não olhando para eles, não se preocupando com eles, não se referindo a eles, não NADA com eles, é muito mais desolador para quem busca a fama. É o equivalente a “zero comentários para o seu texto”, a mensagem que sempre frustra os blogueiros.

É claro, indiferença só é indiferença se for total. E isso é uma utopia que não vale a pena perseguir. Até porque, discutir a “situação de permissividade e liberdade exacerbada na atual sociedade” é demais para a cachola desta geração, que não lê Dostoievsky.

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