terça-feira, 15 de novembro de 2011

Um produto à venda


*Jéssica Fontana Favaretto


Não sei quando surgiu a música e não acredito que alguém possa ter certeza de uma data. A música é algo do ser humano, algo que o acompanha há muito tempo. Mesmo não tendo nascido há 10 mil anos atrás, ouso dizer que a música esteve presente nas diversas fases do desenvolvimento da humanidade.

Apesar de nossas vidas não serem parte de uma novela da Rede Globo, também temos trilha sonora. A música nos acompanha no carro, nas festas, nos encontros com os amigos, nos momentos românticos, nos momentos de espiritualidade e até mesmo nos funerais. A música expressa o que sente o homem, seja amor, angustia, raiva. A música sempre tem palavras a dizer, não importa a ocasião.

A música já fez parte da guerra. Os exércitos cantavam enquanto iam a luta e os poetas compunham canções das vitórias gloriosas daqueles que empunhavam as espadas. Os monges e padres cantavam em louvor a Deus pedindo a vitória. No entanto, os tempos mudaram, as guerras também, e a música mudou junto.


Por muito tempo a música retratou o dia-a-dia dos diversos povos que habitavam de forma quase isolada a Terra. Hoje, vivemos uma era em que o capitalismo transformou a música em produto e a globalização levou a música aos quatro cantos do mundo - acho até que ela  puxou as barbas de Deus. Isso é facilmente percebido através do exemplo que o professor de Antropologia, Conrad Phillip Kottak, dá em seu livro Mirror of Humanity onde diz que "American rock stars recordings blast throught the streets of Rio de Janeiro, while taxi drivers from Toronto to Madagascar play Brazilian music tapes”.

Foto: Google Imagens
O capitalismo e a globalização nos deram acesso ao que é produzido longe de nós, mas também fizeram com que a música perdesse qualidade a partir do momento que passou a reproduzir qualquer coisa que pudesse vender, e a Jéssica não está louca por dizer isso, é só prestar a atenção no que tocam as rádios.




As canções abriram um vasto leque de mercados para os empresários espertalhões. Discos, CD’s, shows, camisetas personalizadas e objetos típicos das bandas e cantores. Numa reunião de quase tudo isso, ainda temos festivais de música que reúnem muitas bandas e trazem lucros. Não sei se as minhas ideias correspondem aos fatos, mas, apesar de adorar assistir a shows, acredito que há uma certa exploração indevida em cima da música, pois ela não passa de algo que é parte da nossa cultura e que, portanto, não deveria ser vendida. Mas vou deixar essa discussão para os caras lá da Escola de Frankfurt, pois sei que os músicos também precisam viver, tendo ou não vergonha de ser feliz.

Volto a falar da música em si. Acredito que enquanto houver sentimento, haverá música. Se Deus levar a todos, mas esquecer um de nós em algum confim da terra, a música ainda estará vivendo por aqui, mesmo que aquele que continuar a viver seja surdo e mudo. A música está em nós e nós somos parte da música.

Não me importo se a música é vendida ou não, não me importo se eu a escuto num festival ou no escuro do meu quarto, eu me importo com o relacionamento que há entre as palavras, os sons e os sentimentos.




*Jéssica Fontana Favaretto é acadêmica do VI nível de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da UPF.

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