quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Comida Amarela


                                                                                                                                     Mateus Miotto*

Outro dia eu ouvi alguém dizer: “O meu dia tinha que ter umas 40 horas, não 24”. Este é o reflexo da correria em que a população de cidades em pleno desenvolvimento enfrentam. Passo Fundo, segundo dados do Governo Do Estado, é a 16° cidade no ranking de desenvolvimento. Mas desenvolvimento requer trabalho, requer  tempo.  Em Passo Fundo a maioria da população trabalha no comércio e no centro da cidade. Grande parcela destes trabalhadores moram mais afastados há pelo menos 20 minutos de ônibus. 

Com intervalos de almoço com no máximo 1 hora e meia, fica difícil despender 40 minutos só na viajem de ida e volta para casa. Isso, somado ao tempo de preparo do almoço torna inviável retornar para casa ao meio dia. A solução encontrada é comer nos inúmeros restaurantes espalhados pela cidade. O problema é que nem sempre o que é servido é exatamente o que deveríamos comer.  Quem, após meio dia de trabalho, se contentaria em comer frutas, verduras e um suco natural, diante de um buffet completo? É, exatamente....

Foto: Tatiane Santi
A comida não difere muito da droga sintética. Após uma jornada estressante a pessoa pode encontrar refugio em atraentes e gordurosos pratos. Além de deliciosa, a comida tida como não natural é barata. Em Passo Fundo é possível comer por R$6,00, com direito a carne na chapa, batata frita, salgadinhos e outros. 

A mídia culpa as pessoas, os médicos dão as recomendações. Todos apontam para um culpado: quem ingere alimentos gordurosos. Mas, a meu ver, o sistema frenético que todos nós enfrentamos é o grande vilão. Sem tempo e com níveis de ansiedade acima do normal, fica difícil saciar a ânsia em alguma coisa de coloração verde. A solução é buscar refúgio na chamada “comida amarela” a comida gordurosa. 

Mas então a culpa é unicamente da falta de tempo? E se eu tiver uma jornada menor, por que então é ainda difícil me alimentar de forma correta? Outro importante fator, que a imprensa não observa com importância, é o preço dos produtos naturais.

Nos mercados qualquer coisa não industrializada custa caro. Um simples pé de alface custa R$1.50.. Laranjas, mamão e outras frutas custam bem mais que algum industrializado custaria. É só prestar a atenção. Comer de forma saudável custa caro, bem mais caro. Aveia e cereais, de suma importância para a saúde, são os campeões de preço. O quilo deste produto chega a custar mais de R$10,00, um desestimulo á compra de quem está começando a descobrir o mundo natural. 

Problemas que o governo não vê, problemas que a mídia não se dá conta. É muito fácil criticar quem está acima do peso dizendo: ele só come porcaria. Mas infelizmente o sistema atual força a maioria das pessoas a comerem algo rápido, barato e que sacie. O sistema  força as pessoas a comerem algo que realmente  não é saudável. Tudo tem um preço, mas toda essa comida amarela, gordurosa, um dia cobrará seu preço. Este preço, infelizmente, será mais caro que qualquer lanche já pago, será a nossa saúde.

*Mateus Miotto  é aluno do curso de Jornalismo da UPF, VI nível.

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