sexta-feira, 20 de maio de 2011

Na raiz da maldade

Marcus Freitas*

Dia 27 de setembro de 1969. Um casal fazia um piquenique nas margens do lago Barryessa, no estado da California, nos Estados Unidos. Bryan Hartnell e Cecilia Shepard, respectivamente 20 e 22 anos, aproveitavam o ensolarado dia quando foram surpreendidos por um homem todo vestido de preto trajando uma máscara de carrasco na cabeça. Armado, o homem mandou Cecilia amarrar seu namorado e depois a amarrou. Após deitá-los no chão, sem nenhuma hesitação, desferiu inúmeras facadas em ambos. Hartnell sobreviveu às oito facadas que levou do assassino, diferente de Shepard, que faleceu dois dias depois.

O caso descrito acima é um dos ataques do Zodíaco, serial killer que espalhou medo nos Estados Unidos durante o começo da década de 70. Uma das características mais assustadoras, conforme relatos de sobreviventes, é que o assassino não perdia a calma durante seus ataques, demonstrava prazer a cada segundo de terror. Mas o que motiva alguém a matar sem nenhum impedimento moral, sem nenhuma compaixão, culpa ou preocupação com as consequências? Mentes deturpadas e perversas cometeram as chacinas mais chocantes que o mundo conhece.

Antes de tudo, nem todo psicopata é um assassino, mas todo assassino é um psicopata. O psicólogo e pesquisador canadense Robert Hare descreve um psicopata como alguém extremamente egoísta, que faz qualquer coisa para facilitar sua vida, sem necessariamente ser violento. Uma pessoa mentirosa no trabalho que não vê limites para alcançar seus objetivos pode ser classificada como um psicopata. Hare define o psicopata como “um predador que usa charme, manipulação, intimidação, sexo e violência para controlar outros e satisfazer suas próprias necessidades egoístas”. Hare ainda aponta a falta de culpa ou remorso na violação das normas sociais. Não demonstrando qualquer consciência ou empatia, um psicopata simplesmente faz o que quiser para obter o que procura.

Em entrevista para a revista Veja, Hare afirma que ninguém nasce ou morre psicopata, todos nós tempos tendências para tal, mas que são controladas por normas sociais. A psicopatia não é uma categoria descritiva, mas sim uma medida que varia para mais ou menos. O psicólogo atente para os sádicos, o tipo mais perigoso de psicopata. “Eles não somente buscam a própria satisfação como querem prejudicar outras pessoas, sentem felicidade com a dor alheia” disse.

Porém, naqueles que possuem uma tendência severa à violência, o sentimento de prazer ao cometer seu crime ou perversão é o que os tornam perigosos. Da mesma maneira que uma pessoa viciada em drogas tenta retornar à satisfação da primeira dose, um assassino revive a adrenalina experimentada. O FBI classifica os assassinos em três principais categorias. Uma pessoa que mata duas ou três vítimas com um período de tempo entre elas é considerada um “assassino em série”. Aqueles que matam quatro ou mais vítimas ao mesmo tempo são chamados de “assassinos em massa”. Já os “assassinos turbulentos” seriam aqueles que matam várias pessoas em vários locais num curto espaço de tempo.

No campo das artes, inúmeras obras retratam assassinos. Na literatura, “Laranja Mecânica”, de Anthony Burgess, retrata crianças com menos de 15 anos espancando qualquer um que encontrem na rua, se divertindo com a “ultraviolência”. Burgess acredita que o homem é mal por natureza, que as pessoas apenas controlam seus impulsos. Em 1992, a intervenção da polícia para conter uma rebelião no presídio Carandiru deixou um saldo de 111 mortos. Dráuzio Varella escreveu “Carandiru” baseado no tempo que viveu como médico no local, obra que ganhou versão para o cinema pelas mãos de Hector Babenco. Em 2002, o prédio foi implodido.

Grande parte das chacinas mais conhecidas foram executadas com planejamento prévio – e as vezes minucioso. O caso de Realengo no Rio de Janeiro é um perfeito exemplo disso. Wellington Menezes, de 24 anos, planejou durante meses a chacina realizada no dia 7 de abril de 2011, onde 14 crianças de 12 a 14 anos foram mortas. Delirante, ele acreditava ser uma pessoa iluminada, pura, que teria lugar no paraíso. A polícia achou várias cartas e vídeos (a maioria de cunho religioso) com Wellington se preparando para sua chacina. O assassino culpou o bullying sofrido na infância como o estopim de suas ações.

Nos Estados Unidos são inúmeros os casos de ataques em escolas. Em1999, Eric Harris e Dylan Klebold se armaram com rifles e entraram no Instituto Columbine com o intuito de deixar o máximo possível de mortos. Quinze alunos morreram e outros 25 ficaram feridos. Após um tempo, ambos se suicidaram com tiros na cabeça. Oito anos depois, no estado da Virgínia, o sul-coreano Seung-Hui Cho matou 32 pessoas, efetuou mais de 170 tiros, no fato que entrou para história como a maior chacina em solo norte-americano.

A maldade não possui cara, cor, credo, forma ou fronteiras. Ela pode ser explosiva ou minuciosa, rápida ou lenta, previsível ou inesperada. Psicopatas quebram as barreiras do socialmente aceito e deixam os instintos tomarem conta de seus atos. Afinal, a raiz da maldade reside no âmago da humanidade.


*Aluno do VII nível de Jornalismo On-Line.

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