Eugênio Giaretta*
Fanático é um termo cunhado no século XVIII para denominar pessoas que seriam partidárias extremistas, exaltadas e acríticas de uma causa religiosa ou política. O grande perigo do fanático está na certeza incontestável e absoluta que ele tem a respeito das suas verdades. Detentor de uma verdade supostamente revelada especialmente para ele pelo seu deus, o fanático geralmente não aceita discussões ou questionamentos racionais com relação àquilo que apresenta como sendo seu conhecimento; a origem divina de suas certezas não permite que argumentos apresentados por simples mortais se contraponham a elas.
Num tempo de homens-bomba, atentados terroristas, manifestações racistas e ações extremistas, pensar o fanatismo é atual, relevante e urgente. Para tal, é importante esclarecer que essa prática consiste, basicamente, na exaltação que leva indivíduos ou grupos a praticar atos violentos contra outras pessoas, prejudicando significativamente sua liberdade e atentando contra a vida, baseados na intolerância e na crença em verdades absolutas, para as quais não admitem contestação. Os fanáticos são aqueles que acreditam que qualquer fim justifica os meios, defendendo que a justiça, ou o que quer que queiram dizer com a palavra justiça, seus valores, suas convicções e crenças são mais importantes do que a vida. São aqueles que, se julgam algo mau, consideram legítimo procurar eliminá-lo a qualquer custo. Com base nessas características, parece óbvio concluir que o fanatismo, nas suas diversas formas, pode sim ser considerado uma violação aos direitos humanos.
Dentre as diversas justificativas adotadas pelo fanatismo, algumas ganham destaque por serem mais comuns nas sociedades atuais. As religiosas, as racistas, as políticas e as esportivas parecem resistir ao tempo e à nova realidade, na qual se prega não haver mais espaço para qualquer tipo de preconceito.
A religião serviu, em diversos momentos da história, e ainda serve como pretexto para perseguições, torturas e assassinatos, dos cruzados medievais aos fundamentalistas do século XXI. O racismo (contra negros, semitas, orientais, etnias minoritárias) provocou e provoca muitas humilhações e derramamento de sangue, tendo chegado ao ponto máximo, em pleno século XX, ao confinar pessoas em campos de extermínio, onde seriam escravizadas, torturadas e mortas, por sua suposta inferioridade racial. A política foi e é desculpa para inúmeras violências contra opositores, manifestações agressivas de chauvinismo, opressão e terrorismos, a partir de óticas e “verdades definitivas” tão diversas como a comunista, a imperial, a libertária, a do “mundo livre”, a nacionalista. O ato de torcer por esse ou aquele clube de futebol surge como o mais novo fundamento para atitudes antissociais e violentas, não só contra torcedores dos times “inimigos”, mas também contra determinados grupos étnicos, mulheres, homossexuais e migrantes. Além de tudo isso, outra justificativa muito frequente no contexto vigente é o machismo, que pode ser tomado como uma justificativa para violências específicas contra mulheres e homossexuais.
A identificação destas e de outras razões que fundamentam o fanatismo suscita uma reflexão acerca da necessidade de compreensão do processo histórico do qual afloram essas ações, para que seja possível às sociedades atuais desvendar e compreender, em profundidade, temas que estão presentes no seu dia a dia, no sentido de tornar possíveis medidas que venham a amenizar estas crenças nocivas, pelos resultados desastrosos que produzem.
Não é de hoje que o mundo recebe, através da mídia, informações sobre a ocorrência de atentados a embaixadas, invasões a escolas, explosões em ônibus, incêndios de igrejas, mesquitas e sinagogas, espancamento de homossexuais, moradores de rua e negros, ataques a prédios públicos, cemitérios e instituições, assassinatos em massa de grupos étnicos rivais e por aí afora.
O assunto é preocupante. Qualquer pessoa de bom senso sabe que o fanatismo já provocou muito estrago. Está mais do que na hora de ser identificado, compreendido e combatido. Para tanto, é preciso saber reconhecê-lo em suas diversas manifestações. Saber até onde foi para se ter uma ideia de até onde poderá ir, se não for detido.
*Aluno do VII nível de Jornalismo On-Line.
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