sexta-feira, 24 de junho de 2011

O heroísmo da adoção

Victor Hugo Folchini Sebben*

Fonte: Divulgação/Google Imagens

Volta e meia retorna à mídia a questão da adoção, tema que se tornou mais presente há dois anos, quando o governo sancionou a nova lei que regulamenta essa prática . Na ocasião, algumas discussões procuraram averiguar os prós e contras da nova legislação, como de fato cabe à imprensa fazer.

No entanto, o que geralmente está por trás das discussões sobre adoção é a necessidade ou não de uma regulamentação rigorosa. De um lado, estão os que pensam que o rigor da lei, ao impedir que famílias as quais não se enquadram nas requisições legais adotem crianças, atravanca o processo com burocracia, negando a muitos jovens o direito que a própria constituição lhes assegura: o de crescer em um seio familiar adequado. O argumento faz sentido.

Mas existe, também, o outro lado da moeda. Em um país no qual crianças são diariamente expropriadas para servirem aos obscuros propósitos do crime e prostituição, é necessário rigor e cuidado. Além do mais, a submissão de famílias a longos períodos de espera deve-se muito mais ao fato de que a maioria das pessoas procuram crianças bem pequenas para adotar (como referido no artigo linkado no início do texto), enquanto a maioria dos menores que esperam por adoção já se encontram em idade mais avançada. Ou seja, há um problema de oferta e demanda, por assim dizer.

A nova lei contem, de fato, mecanismos de controle importantíssimos, dos quais não se pode prescindir. Negar a necessidade de qualquer regulamentação nessa área é perceber a existência da ponta do iceberg, desconhecendo a massa abaixo d’água. A criação do cadastro nacional de pessoas interessadas em adotar e crianças disponíveis para adoção faz muito sentido também, mas tem um problema: ela desflexibiliza de forma demasiada o processo. Só serão considerados para adotar uma criança mais velha os que se cadastrarem como interessados nessa faixa etária. Um contato poderia levar alguém a adotar um menor fora dos parâmetros que, inicialmente, norteavam sua busca.  

Exercício de consciência
Creio que a solução possível, nesse caso, passa pela consciência, e não pela lei. É pensar na adoção não apenas como uma alternativa para casais que não podem (ou não desejam) ter um filho próprio. Em um mundo cada vez mais superlotado, e com abismos sócio-econômicos grotescos, adotar é, acima de tudo, uma alternativa de vida ética e correta. Adotar crianças um pouco mais velhas quando é difícil encontrar recém-nascidas é produzir um bem social que não pode ser medido de nenhuma forma. É salvar uma vida.

Está nas mãos de nossas famílias de classes média e alta promover a melhoria das condições de vida de milhares de pessoas em nosso país. Basta apenas que haja a coragem que o heroísmo demanda.

*Acadêmico do sétimo nível de Jornalismo


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