sábado, 21 de novembro de 2009

As cortinas da vida privada

Luiza Santos, Acadêmica de Jornalismo, VII Nível.


Não é de hoje que a linha entre aquilo que é privado e o que é de conhecimento público se tornou tão tênue que algumas poucas criaturas ainda são capazes de distinguir. Frequentemente, o termo que rege as pautas do jornalismo moderno – aquilo que é de interesse público -, acaba por ser confundido com o que interessa ao público: quando isto acontece, não existe santo capaz de nos ajudar. Está feita a banalização da vida privada em detrimento de alguns escassos pontos na audiência ou de dois ou três exemplares vendidos a mais.

Não é complicado entender por que casos de impacto - que possuem um claro apelo sentimental e que possibilitam uma identificação exacerbada -, como os já batidos capítulos da saga de Isabela Nardoni e tantos outros similares genéricos fazem o sucesso que fazem. É um tanto quanto óbvio que a súbita morte de uma menina de cinco anos, em circunstâncias suspeitas, causaria no público um desconforto agudo, gerando ânsias de uma solução de justiça imediata independente do custo. E aí, uma vez que a opinião pública está formada, já não importa mais que se desvendam as minúcias do crime ou que o encaminhamento adequado seja dado ao caso. O povo quer justiça e o povo quer agora. Mas a justiça não surte efeito algum sem um espectador para assisti-la.

Nem tão esporádicos quanto deveriam e parte de um ciclo que insiste em se renovar constantemente, estas notícias que possuem a capacidade de fazer os cidadãos clamarem por justiça da confortável posição proporcionada pela maciez e segurança de suas poltronas tendem a dominar os noticiários mês a mês. Não foi diferente com o caso da estudante da Uniban, que, usando de sua completa falta de bom senso conseguiu ser expulsa da faculdade por usar roupas mais curtas que a maioria dos alunos.

Absurdo ou não, a questão não é essa. Que a menina tem direito de se vestir como bem entender e que a atitude de expulsa-lá foi decididamente exagerada, todos concordam. O fato é que o povo brasileiro quer é dar pano para a manga – mesmo que não exista manga nenhuma. Quer quebrar qualquer barreira protecionista entre a vida privada e o que é de conhecimento público: existe a necessidade de se relacionar com a tragédia, de fazer da tela da televisão um espelho e um instrumento de identificação. Só assim o espetáculo pode continuar. E continua: esquece, companheiro – as cortinas não vão descer tão cedo.

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