sábado, 20 de junho de 2009

O diploma faz diferença?

Ana Maria da Rocha

Em julgamento realizado nesta quarta-feira 17 de junho, em Brasília, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 511961, interposto pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão de São Paulo, garantindo assim a liberdade de expressão ao tornar não obrigatória a exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Segundo o presidente do STF e relator do RE, ministro Gilmar Mendes, a exigência do diploma feria a liberdade de expressão e, portanto era inconstitucional.

Você poderia se informar sobre esse assunto assim, ou poderia saber mais.

Saber que este texto está, perfeitamente, correto e responde a todas as indagações dos manuais de jornalismo das grandes empresas de comunicação: O quê? Quem? Onde? Quando? Como? E por quê? Manuais estes que serviriam de base aos futuros jornalistas que não precisariam mais fazer o curso superior. No futuro poderá ser assim que você seja informado de uma decisão tão importante quanto essa, porque manual, algum ensina aos jornalistas a se fazerem a seguinte pergunta: A quem interessa isso? A quem interessa a não obrigatoriedade do diploma? Além do mais, a prática cotidiana que só repete um modelo pré-estabelecido, também, não dará aos jornalistas subsídios para esse e outros questionamentos.

Você poderia ficar sabendo que apesar da decisão do STF ser irreversível, não é, por isso, a mais correta. Que ela está garantindo sim, a liberdade de expressão. A liberdade de expressão dos donos dos veículos de comunicação, que poderão contratar quem eles quiserem, para dizer o que eles quiserem, aonde eles quiserem e para quem eles quiserem.

Você poderia se questionar que influências tiveram os ministros do STF ao tomarem essa decisão tão radical. Você poderia ficar sabendo que grande parte dos congressistas são os donos de empresas de comunicação. Você poderia ficar sabendo que essa decisão coincidentemente ocorre numa época em que muito capital estrangeiro está sendo injetado nas empresas de comunicação. Você poderia ficar sabendo que a globalização e o neoliberalismo dependem da desregulamentação de diversos setores, dentre eles o da mídia. Que isso está ocorrendo em escala mundial e pode ser fortemente sentido aqui no Brasil com a queda da Lei de Imprensa e com o fim da exigência do diploma de jornalista e, que isso não beneficia o cidadão comum.

Você poderia ficar sabendo a diferença entre informar e formar opinião e, descobrir quando está sendo informado, quando está sendo formatado e quando a realidade está sendo deformada. E poderia pensar como alguém pode ajudar a formar a opinião de outrem sem nem ao menos ser formado, ter formado suas próprias opiniões.

Você poderia ficar sabendo que para se formar algo, seja médico ou jornalista, depende da sua formação anterior e do aprendizado profissional que ocorre de três formas: pela educação formal (escola, faculdade), não-formal (prática, estágios, interação social), e informal (família, amigos, colegas, igreja e pela própria mídia!). E ficaria sabendo que nenhuma delas pode ser suprimida. Que sem a educação formal é bem provável que o indivíduo se sujeite a apenas reproduzir práticas instituídas pelo mercado. Que é na prática do dia-a-dia que se aprende os meandros da profissão. Que a formação superior não é garantia de um bom jornalismo. Que a prática não forma um jornalista, pode formar um ótimo redator sob os moldes de um manual, mas não ensina a fazer perguntas, criar e recriar, ao contrário, o formata.

Você poderia ficar sabendo que bom jornalismo não se faz com medo, medo de ser demitido, trocado por alguém mais jovem, mais barato ou da confiança do patrão.
Você poderia saber que a decisão do STF só enfraquece uma categoria que luta todos os dias contra as imposições do mercado editorial, do setor comercial e as decisões do patrão.

Você poderia ficar sabendo... ou não.

Então, você decide se o diploma faz diferença.

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