Zulmara Colussi
A sociedade passa por um processo de transformação violento. Violento pela rapidez com que as coisas mudam. Violento pela violência que determinados padrões rompem as barreiras dos paradigmas Há 30 anos, era impossível um filho não chamar o pai de senhor ou responder sem educação para a mãe em qualquer circunstância. Há 30 anos. Faz pouco tempo. Hoje, não nos surpreendemos mais ao presenciarmos cenas em que filhos gritam, se jogam no chão e armam um verdadeiro barraco no supermercado, diante da negativa dos pais de comprar algo que ele quer. Mais ainda, o tratamento de filhos para com os pais mudou drasticamente. Há 30 anos, quando nós ainda estávamos na adolescência, a desobediência era sinônimo de rebeldia, desbravar o mundo, contestar. E era só na adolescência que nos era permitido manifestar nossas discordâncias em relação ao mundo. Era a fase tolerável dos pais para com os filhos. Mas, não muito. Havia o limite do limite para tudo.
Viramos adultos e tivemos nossos filhos. E o que fizemos com eles que não lhes ensinamos os mesmos padrões aprendidos com nossos pais? Nosso processo de revolta, lá na adolescência, não contestava só o mundo em que vivíamos, mas também a forma como nossos pais nos educavam. Faltava diálogo, compreensão, companheirismo, liberdade. Ah! Liberdade. Era isso. Faltava liberdade. E já que não a tivemos como gostaríamos de tê-la, vamos dar aos nossos filhos. Os filhos devem ser livres para fazer o que quiserem, para escolher, para comer o que tiverem vontade. Os filhos devem ter liberdade. Vamos dar liberdade aos nossos filhos.
Acho que foi nesta tal de liberdade que, nós pais, erramos a dosagem. Não a tivemos e achamos que dando aos nossos herdeiros poderíamos satisfazer nossos sonhos, nossos projetos frustrados. Não tivemos oportunidade de ganhar brinquedos modernos. Então, vamos dar aos filhos. Não pudemos fazer ballé. Então, porque não proporcionar isso a nossas meninas. Não tínhamos permissão para dançar todos os finais de semana, sair à balada, namorar. Então, porque não deixar que os filhos saiam, dancem e namorem quando quiserem?.
Erramos a medida. Sim, porque esta tal de liberdade e falta de limites permitiu que nossos rebentos transgredissem as relações sociais que devem ter com amigos, com colegas e professores. Já que não ganham limites em casa, não aprenderam que lá fora, especialmente na escola, devem ter. Eles são livres, afinal. E podem, sem limites, apelidar seus colegas, ofendê-los, perseguir para demonstrar poder, agredi-los. Se, tudo podem em casa, por que não na escola? Está mais do que na hora de revermos nossos conceitos. Fazer a mea culpa e entender que não podemos dar demais. Eles, nossos herdeiros, precisam saber o que é limite e o significado da palavra Não. Se para isso, precisarmos voltar à escola para mudar nossos conceitos, então que o façamos para garantir um futuro menos, ou melhor, nada violento.
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