sábado, 13 de junho de 2009

Avisa pro Rio Grande que tá tudo certo

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por Morgana Luiza Verdi

O carioca Gabriel o Pensador, compositor, cantador e escritor, foge à regra do rapper moldado nas periferias norte-americanas, berço desse viés musical em que a manifestação se reveste de rima, numa embalagem sonora vendável. Como diz o poeta, “malandro é malandro e mané é mané”, Gabriel se encaixa perfeitamente no primeiro caso. Pensador boa praça, é bem vindo desde as rodas de samba, do seu amigo Zeca Pagodinho, passando livremente pelas gravações de Caminho das Índias, onde recentemente teve participação, chegando a dividir o palco com Racionais Mcs, tudo na mais perfeita harmonia.

Do censurado Hoje eu to feliz (matei o presidente) vociferando a vontade do cidadão brasileiro, começou a ganhar a atenção da mídia e a voz no baile. Mas foi quando contou a história do velho índio que fumava o cachimbinho da paz conquistou respeito. Misturando política, gosto e crítica com acidez num jogo em que “a paz é contra a lei e a lei é contra a paz”. O Pensador criou hino e atingiu até a burguesia, com o Retrato de um Playboy, e direito a duas versões, velha história do Pit Boy classe média que luta jiu-jitsu, mas não sabe conversar. E pasmem, não sofreu nenhuma represália.
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Bom de papo, microfone e marketing, ninguém ousa contestar. Mas volta e meia Gabriel faz questão de lembrar que rima é coisa séria e não é só 2345meia78, e tá pronto, é só molhar o biscoito. Com Pra onde vai? e Palavras Repetidas, mesclando trechos de Legião Urbana o Pensador ampliou seu leque de admiradores. Loucos por Renato Russo, vítimas de violência e mães que perderam seus filhos sob a mira de um revólver, namoradas (“viúvas” prematuras), e sim, cantou também os sonhos que foram deixados para trás.

Mas agora Gabriel, sem fronteiras, atreve cantar o mate e o churrasco. Apropriações da cultura gaúcha. E não é que consegue encaixar Gaúcho da Fronteira em suas rimas urbanas? Musicou a roda do chimarrão. E ainda alfineta o Brasil à fora com parte do hino riograndense, “Povo que não tem virtude, acaba por ser escravo”. Insinuações à parte, tratando-se do Pensador, o gaúcho encanta ou pasma o poeta. Só falta mandar o convite pro Zeca Pagodinho, que vai levar a Beth Carvalho, e o Marcelo D2, e avisar o Neto Fagundes do churrasco na casa do Pensador com cerveja gelada e mate bem quente, porque “é disto que o velho gosta, é isto que o velho quer”.

Confira a letra:
Composição: Gabriel O Pensador / André Gomes

Posso? (Pode, tá bom)
Demorou
Ah

Quero que a sorte me ajude
Nas batalhas que eu travo
Mas do berço ao ataúde
Vou manter minha atitude
Não importa a latitude ou longitude
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo

Nem centavo, nem milhão
Nem o dobro, nem metade
Nem a prata, nem o ouro
Nem o Euro, nem o Dólar
Nem fortuna, nem esmola
Nada do que eu conheço paga o preço de viver sem
liberdade
Felicidade não é coisa do outro mundo
E eu não sou um vagabundo, mas sei vagabundear
Trabalho duro, penso no futuro
Mas o presente eu vou desembrulhar

É como disse a Berenice
Falou e disse
Vamo parar de meninice
Falou e disse
Eu nunca fujo do perigo
Falou comigo?
Amiga chama as amigas que eu vou chegar com os amigos

Confie em mim que no fim dá
Tudo certo
Avisa pras amigas que tá
Tudo certo
Eu chego com os amigos e tá
Tudo certo
Se ainda não deu certo é porque ainda não chegou no
fim

E no fim dá
Tudo certo
Avisa pras amigas que tá
Tudo certo
Eu chego com os amigos e tá tudo (certo)

Ae, churrascada lá em casa
Traz a carne pro espeto
Traz o gelo pra gelada
Traz o verde pra salada
É sempre um bom motivo pra juntar a rapaziada

O chimarrão na praia ou no rincão
Representa a tradição que passa de mão em mão
Da mão que passa pra boca
Da boca pra outra mão
Que passa pra outra boca com sorriso de satisfação
Abre a roda do chima, deixa eu chegar
Deixe que murcha a bomba até a cuia roncar
Damas primeiro, mas vai devagar
Cuidado que é pra não se queimar


É como disse a Berenice
Falou e disse
Vamo parar de meninice
Falou e disse
Eu nunca fujo do perigo
Falou comigo?
Amiga chama as amigas que eu vou chegar com os amigos
Tô chegando

Confie em mim que no fim dá
Tudo certo
Avisa pras amigas que tá
Tudo certo
Eu chego com os amigos e tá
Tudo certo
Se ainda não deu certo é porque ainda não chegou no
fim

E no fim dá
Tudo certo
Avisa pras amigas que tá
Tudo certo
Eu chego com os amigos e tá tudo (certo)

Gosto do que é bom e o que é bom não enjoa
Curto a minha vida que ela é curta mas boa
Não tem carne eu como peixe
Não tem mate eu bebo água
Não tem festa, a gente faz a festa de duas pessoas
Eu e você, você e eu, chega mais perto
Por que cê tá tão longe
Não esconde esse sorriso assim
Confie em mim
Que no fim dá tudo certo
Se ainda não deu certo é porque ainda não chegou no
fim

Me dá um pouco da boca
Me dá um naco da nuca
Não se preocupe eu não tô louco, nem você maluca
Agora é tarde pra tremer de medo
E ainda é cedo pra morrer de culpa
É Como disse a Berenice
Falou e disse
Vamo parar de meninice
Falou e disse
Eu nunca fujo do perigo
Falou comigo?
Amiga chama as amigas que eu vou chegar com os amigos
Chega aí

Confie em mim que no fim dá
Tudo certo
Avisa pras amigas que tá
Tudo certo
Eu chego com os amigos e tá
Tudo certo
Se ainda não deu certo é porque ainda não chegou no
fim

E no fim dá
Tudo certo
Avisa pras amigas que tá
Tudo certo
Eu chego com os amigos e tá tudo (certo)
(Tudo certo)

Â?Churrasco, bom chimarrão
Fandango, trago e mulher
É disto que o velho gosta
É isto que o velho quer?

Â?Churrasco, bom chimarrão
Fandango, trago e mulher
É disto que o velho gosta
É isso que o velho quer?...

Confie em mim que no fim dá
Tudo certo
Avisa pras amigas que tá
Tudo certo
Eu chego com os amigos e tá
Tudo certo
Se ainda não deu certo é porque ainda não chegou no
fim

E no fim dá
Tudo certo
Avisa pras amigas que tá
Tudo certo
Eu chego com os amigos e tá tudo (certíssimo)

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