sábado, 13 de junho de 2009

Quando o povo se organiza



Zulmara Colussi

Pode parecer chavão de partido de esquerda, mas os movimentos populares, embora tenham conotação política são, hoje, a essência da transformação da sociedade, em qualquer tipo de governo, seja ele socialista ou de direita. A União das Associações de Moradores de Passo Fundo – Uampaf é exemplo claro de organização a partir das bases populares e que tem seu funcionamento independentemente do partido que estiver no governo. Criada em 24 de maio de 1986, por um grupo de líderes comunitários formado basicamente por Paulo Monteiro, Gilberto Simor, Salvador Lima, Ari Andrade, Daltro Wesp e Paulo Dutra, a Uampaf é uma Sociedade Civil Organizada – não é uma ONG – tem CGC, caráter jurídico e não tem fins lucrativos. O objetivo, a época da fundação, era organizar as 20 associações de moradores existentes para agir de forma coletiva no atendimento das demandas comuns. A primeira Associação de Moradores de Passo Fundo foi criada na Vila Operária. A partir dela, outras associações foram sendo formadas, mas cada uma desenvolvia ações isoladas. A Uampaf teve a tarefa de canalizar essas ações, fortalecendo assim o movimento comunitário.

A tarefa primeira foi sendo concretizada nestes 22 anos de existência da entidade. Hoje são 87 associações, sendo que mais 12 comunidades estão se organizando para formar novas organizações. A meta é chegar a 100 entidades em um curto espaço de tempo. Este movimento popular passou por uma série de transformações ao longo do tempo. Foi amadurecendo com as experiências e hoje se constitui em uma das organizações mais respeitadas em Passo Fundo. Não há qualquer decisão que seja tomada na esfera municipal sem a participação da entidade. Ela não só é consultada como também é parâmetro para ações do Executivo e Legislativo. Mas, não foi sempre assim. No começo, o movimento se resumia nas ações isoladas de quem estava na presidência.

A entidade passou por mudanças a partir de 1993 quando novos líderes começam a integrar o movimento. Lutas foram sendo organizadas e conquistas como a do transporte coletivo, com o barateamento das passagens, a renovação da frota e o fim da poluição do Cortume Ciplame foram se somando na história do movimento comunitário.

A Uampaf aprendeu com as próprias experiências, erros e acertos. Amadureceu e conquistou novos adeptos. Mostrou que é impossível alcançar objetivos sem união. É desta forma que, hoje, a instituição está presente em todas as manifestações populares, sejam elas promovidas pelo Poder Público ou pela sociedade civil organizada. A Uampaf é o melhor exemplo de movimento popular independente e organizado. E mostra, em todas as suas ações, que não basta a crítica pela crítica. O cidadão também tem que contribuir para uma sociedade melhor e só estará fazendo isso, de forma organizada.

Os projetos da atual diretoria da Uampaf vão além da administração e encaminhamento de demandas. Atualmente, uma das preocupações é com os direitos dos cidadãos e com a formação de novos líderes. Para tanto, fará parceria com o Balcão do consumidor, Defensoria Pública. A qualificar de lideranças de bairros é outra meta. A atual diretoria entende que não pode se constranger com oposição dentro do movimento. Tem consciência de que no momento em que se qualifica, a organização é quem sai ganhando.

Uma das grandes deficiências do movimento comunitário, no entanto, é a comunicação. Falta comunicação interna e com a própria sociedade. Não há um setor que faça a divulgação dos eventos, lutas e do movimento como um todo. A divulgação ocorre, na maioria das vezes por ação isolada da diretoria (presidente) e diretorias das Associações de Moradores. A falta de comunicação impede a questão da valorização do movimento no atendimento das demandas. É preciso, desta forma, para a eficiência dos resultados da entidade, que a Uampaf faça uma autocrítica e se empenhe, também, na estruturação da comunicação, que é a alma do negócio.

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