Natália Arend
Acadêmica de Jornalismo, VII nível
Acadêmica de Jornalismo, VII nível
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Ernestina é uma típica cidade pequena onde todos se conhecem e todos sabem de tudo. Fica a uns 30 minutos de viagem de Passo Fundo, dependendo da velocidade que você está. Essa velocidade já fez alguns estragos nas vidas de umas pessoas bem jovens que moravam por lá.
Em um domingo de fevereiro de 1995, cinco jovens com menos de 25 anos não agüentaram o domingo tedioso da cidadezinha e resolveram pegar o carro à procura de um fim de semana mais interessante em Passo Fundo. Eles não conseguiram chegar até o destino, quatro deles morreram, dois eram irmãos. Eu lembro bem das pessoas nas ruas esperando notícias. Naquela época, não tinha internet, quase ninguém tinha celular, e todo mundo ficou na rua, onde dois dos meninos moravam, esperando notícias das pessoas da família que estavam no hospital.
O acidente deixou toda a população comovida, como se cada um tivesse um parente no maverik bordô do pai do menino, que sonhava jogar vôlei na seleção brasileira. No outro dia, foi decretado luto oficial, a cidade estava parada, tinha um silêncio diferente no ar, a movimentação estava na frente das duas igrejas onde aconteciam os velórios e nas ruas onde as famílias moravam.
Tanto tempo depois, várias outras pessoas, de todas as idades não voltaram para casa por causa de acidentes no trânsito, deixando o mesmo silêncio no ar, a mesma sensação de que cada um tinha perdido alguém, mas nenhum que tivesse parado a cidade como naquele domingo de verão.
Há uma semana atrás, dois meninos bem longe dos 25 anos, estavam voltando de uma festa em Passo Fundo no carro da mãe de um deles. O que estava de carona precisava chegar em casa, que ficava em uma outra cidade a uns 10 minutos de Ernestina, dependendo de sua velocidade.
Ele não chegou em casa, um acidente horrível envolvendo três carros, carbonizando as cinco vitimas, ocupando a primeira página de vários jornais, interrompeu a vida desses dois meninos e parou Ernestina e a outra cidade vizinha, do mesmo jeito que há 14 anos atrás. As pessoas estavam nas ruas, perto da casa do menino de 19 anos, tentando consolar a família, lamentando a perda e buscando notícias do acidente. Mesmo em tempos de internet, todos preferiram receber as notícias juntos, deve ter algo a haver com esse clima de cidade pequena em que todo mundo se conhece, e se solidariza com a dor das outras pessoas, como se fosse consigo mesmo.
É triste que uma cidade tão pequena colecione acidentes envolvendo pessoas bem jovens, que não vão voltar para casa. Ninguém mais quer perder amigo, filho, vizinho ou colega em acidentes de carro. Tem sempre alguém te esperando para voltar para casa, tem sempre alguém que vai gostar de te encontrar na rua na outro dia e saber como foi a festa da noite anterior.
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