sábado, 27 de junho de 2009

só a arte salva


Ana Maria da Rocha*

Ando pensando muito em arte ultimamente, ainda mais depois que a professora Cilene me disse uma frase de autoria desconhecida, é mais ou menos assim: “Quem não pode ter acesso à psicanálise, tem a arte e quem não tem arte, tem religião”. Bom a religião eu dispenso e a psicanálise ainda não posso pagar, então minha única salvação é a arte.
Meu raciocínio parte da leitura de um trecho do livro da Lucia Santaella Culturas e Artes do pós-humano:

“Mais exigente do que a sobrevivência física é a sobrevivência psíquica. É dessa exigência inexaurível que começaram a nascer os signos, puros signos, cuja funcionalidade é muito mais enigmática do que a dos signos utilitários, estes que nos rodeiam cotidianamente e que costumamos chamar de utensílios e objetos. Esse utilitarismo, entretanto, não explica a existência e funcionalidade dos signos puros. As primeiras inscrições nas grutas, os rituais, deuses e mitos, o canto, a música, a dança, os jogos, todos eles dispendiosos e inúteis para a sobrevivência física, isto é, não utilitários, são condição e cifras da sobrevivência do psiquismo humano”. (Santaella. 2003, pg. 221)


Relacionei essa leitura com uma reportagem de Eduardo Veras que saiu no Caderno Donna de Zero Hora de 11 de janeiro de 2009. A reportagem contava a história fantástica por que passou a historiadora Sandra Pesavento quando esteve em coma induzido devido a uma infecção hospitalar. Num estado entre o sono e a vigília, delírio e semiconsciência, como diz o repórter, ela passou por muitas aventuras oníricas. Esteve na Toscana, presenciou um desembarque viking e visitou um reino na amazônia onde seu filho pontificava. Sandra afirma “Minha cabeça me salvou!”, enquanto os médicos cuidavam da saúde do corpo, a sua capacidade artística, na minha modesta opinião, salvou-lhe a mente. Foram as histórias que ela ouviu e as obras de arte que apreciou que formaram as memórias oníricas que sua mente dispôs num momento de crise. Uma mente fértil como a da historiadora não podia ficar vagando ao léu. E como diria o repórter, não venham querer atribuir a experiência de Sandra a fatores transcendentes, foi sua capacidade humana e artística, seu rico acervo de memórias e sua criatividade que lhe salvou.
Não quero com isso colocar a Arte no status de minha religião, acredito que a Arte é maior que isso. A religião é uma forma de arte, um signo puro, como diria a Santaella e, portanto, só a arte SALVA.

* Estudante de Jornalismo e “arteira” nas horas vagas.

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